quarta-feira, 18 de março de 2009

CAPÍTULO 11º – O LAMENTO DOS AMIGOS

LIVRO UM - INÍCIO
O garoto se sentiu extremamente mal com aquela situação. Seja por ser visto com Henrique ou por não ter contado antes para seus amigos. Mas agora não adiantava se remoer, já estava feito, já haviam visto, já estavam desapontados.
- Como assim? – se intrometeu Henrique. – Não contou para eles?
- Magina... Ele nos contou sim, nos disse todos os detalhes do casinho de vocês. – começou Ícaro com ironia. – Só estamos espantados à toa de ver vocês juntos.
- Que coisa, não? – se irritou Henrique. – Talvez ele achasse desnecessário contar a você. Sabe, tanto faz.
- SILÊNCIO! – exclamou uma mulher na fileira da frente, que aparentemente não queria ouvir a discussão e sim, assistir ao filme.
- Vocês discutirem não irá adiantar nada. – disse Pedro baixinho.
- É. Não adianta nada. – começou Malu. – E nem explicações ou desculpas irão adiantar para alguma coisa. – disse a garota, se levantando e puxando Ícaro pela camiseta.
Os dois saíram apressados da sala de cinema, não olharam para trás. Estavam bastante irritados com Pedro.
Após a saída precipitada de seus amigos, ficou certo clima estranho, os dois estavam se sentindo desconfortáveis. Pedro refletiu rapidamente, “será que esse meu caso com o Henrique será reflexo da rejeição de meus amigos?”
- Não fica assim. – disse Henrique, se aproximando dele. – Eles não deveriam ter saído daquele jeito... E muito menos brigado com você.
- Deveria ter contado a eles, isso sim. – se culpou.
Durante todo o resto do filme, Pedro não conseguiu se concentrar, não parava de pensar nos amigos, no quão foi injusto em não contar a eles. Estava extremamente arrependido, pensou que eles ficariam cientes disso de outra forma, uma mais tranqüila e compreensível.
O filme já tinha acabado e eles já estavam lá fora; anoiteceu, o céu estava bastante escuro, sem alguma estrela, não havia algum pontinho branco, apenas a escuridão infinita. Era possível ouvir o barulho das gotas caindo sobre o chão, uma chuva calma lavava a avenida movimentada de taxis. Algumas pessoas tentavam se proteger com seus suéteres e jaquetas, outros preparados tiravam seus guarda-chuvas e corriam.
O motorista correu até o carro e rapidamente abriu a porta, para que os dois garotos entrassem; logo fez um olhar de procura “cadê os outros dois?”. Mas não tinha tempo para pensar nisso, a chuva aumentava cada vez mais. Henrique se deitava ao colo de Pedro, que fazia cafuné em seus lisos cabelos, às vezes o motorista até olhava pelo retrovisor, mas não demonstrava muita curiosidade.
- Não precisa ficar assim por eles. – começou Henrique, fixando os olhos nele. – Não há problema algum nisso, eles tem preconceito.
- Não, eles não têm preconceito algum. – respondeu Pedro, pensativo. – Só ficaram daquele jeito, porque eu não contei a eles antes.
- Ah, como se você devesse satisfações a eles. – se indignou. – Poupe-me.
- Sim, eu devo. – se irritou. – Eles são meus amigos.
Henrique achou melhor não discutir com ele, pois o clima ficaria ainda mais desagradável, então simplesmente concordava com o que o garoto dizia, mas por dentro, discordava totalmente.
O carro estacionou em frente à casa de Pedro, que rapidamente deu um selinho seco em Henrique e saiu com pressa em direção ao portão, rezando para que ninguém o visse chegando nesse carro.
Entrou cauteloso, não queira fazer muito barulho, apesar de ser apenas 22h00, sua mãe podia arrumar algum motivo e brigar com ele.
- QUE CARRO FOI ESSE QUE TE DEIXOU AQUI? – perguntou Helena, descendo as escadas. E logo Olivas, vindo atrás dela.
- É-é-é o H-e-n-r-i-q-u-e. – gaguejou Pedro. – Ele tem um motorista.
- Como assim, um motorista. – disse a mãe, se aproximando. – E cadê seus amigos? Malu? Ícaro?
- Eles já foram.
- Mas eles moram aqui perto, e na outra rua. – pensou Olivas. – Não os vi no carro. – Neste exato momento Pedro sentiu certa raiva pelo padrasto, o olhou com bastante ódio; ele não tinha que se meter nisso. Só pioraria a situação, seria um aliado de sua mãe para mísseis de perguntas.
- Essa história está muito mal contada, sabe! – desconfiou a mãe.
- Mas foi isso o que aconteceu, mãe. – disse Pedro irritado. – É desnecessária toda essa desconfiança de mim!
- Eu não sei... Algo me diz que você está fazendo algo de errado. – falou Helena, o encarando. - Intuição de mãe nunca falha.
- Superstições. – desdenhou Pedro.
A mãe resolveu não discutir com o filho, pois pelo menos os fatos diziam que estava tudo bem, mas ainda assim, ela tinha certa desconfiança. Olivas encarou Pedro por alguns segundos, em seguida pegou uns papeis que estava sobre o sofá e subiu de volta para seu quarto, que logo foi acompanhado de Helena.
O garoto a partir daquele momento tinha a seguinte certeza “intuição de mãe nunca falha”. Realmente ela sentia que o filho estava fazendo algo de errado; no caso de Pedro, o que ele está vivendo é errado para muitos e normal para poucos. Bem, talvez Helena esteja pensando que o filho está se drogando ou bebendo, mas ficando com uma pessoa do mesmo sexo seria um tanto quanto surreal.
Mas essas paranóias familiares não era o foco dos pensamentos do adolescente no momento. O que realmente tomava conta de sua mente era o que acontecera no cinema; o que seus amigos estariam pensando dele neste exato momento? Surgiam dúvidas intermináveis, era até neurótico.
Apesar de toda confusão, arrependimentos, lamentações e situações inusitadas, Pedro conseguiu adormecer em seu quarto.
“Aparentava um dia normal na escola, alunos entrando apressados, porteiros com as mesmas expressões, corredores lotados e barulho.
Pedro entrava no enorme pátio do Colégio Batista um tanto quanto descolado, seu cabelo estava mais bonito e balançava conforme o vento, não usava o uniforme, substituiu por uma calça preta justa, uma camiseta pólo com uma estampa interessante e um óculos escuro bastante exótico. Segurava as mãos de Henrique, todos olhavam para o “casal”, já era de imaginar que causaria certa polêmica; as pessoas se entreolhavam e logo comentavam o que estavam vendo.
Quando entraram no corredor final até o elevador se depararam com Ícaro e Malu, que os olhou com certo desprezo. Mas antes que eles pudessem desviar o caminho, já estavam frente a frente.
- Olha aí – sorriu Malu – O casal do ano. – ironizou. – LINDOS!
- Eu fico em dúvida. – começou Ícaro. – De quem é mais ridículo.
- Sabe. – deu uma gargalhada. – Não sei como nós fomos tão idiotas, Ícaro. – e olhou Pedro de cima a baixo. – De ser amigo desse grande traidor.
- E gay! – gritou Ágata que se aproximava deles. – Gay! Bicha! Veado! Boiola!
Pedro ficou perplexo com toda essa situação, ficou estabilizado, sem reação alguma. Mas, antes que pudesse dizer algo, seus ex-amigos viraram as costas para ele e entraram na classe.
- ACORDA! – gritou Helena. – Estou te gritando há horas, seu grande preguiçoso!

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

CAPÍTULO DEZ 10º – CINEMA À QUATRO

LIVRO UM - INÍCIO

- Não aconteceu nada demais. – disse Pedro. – Não me senti bem, dormi na rua, pra pensar um pouco. – Pedro sentia-se mal por mentir para os amigos, mas estava com vergonha de contar sua real noite passada.
- Como assim, dormiu na rua. – espantou-se Malu. – E como você me ligou?
- E-e-e-u – gaguejou Pedro. – Liguei de um orelhão.
- Eu tenho identificador de chamadas, e não era de orelhão. – pensou. – Era de telefone fixo.
- Não minta, Pedro... – disse Ícaro.
- EU NÃO ESTOU MENTINDO. – falou alto. – Vocês é que estão... Sei lá.
- Está bem. – falou Malu. – Quando quiser contar a verdade, ouviremos.
Pedro sentiu-se muito mal por dentro, fazia de tudo para não demonstrar insegurança para os amigos, mas era claro que eles sabiam que estava mentindo. Não queria contar agora, estava sem graça, era muito recente; mas em breve teria que falar.
A porta de seu quarto escancarou-se, era sua mãe, ainda com expressões de raiva do filho.
- Pedro, tem um menino te chamando. – começou. – Tal de Henrique; Está na sala.
O garoto ficou perplexo com a notícia dada por sua mãe, ficou bastante sem graça. Malu e Ícaro ficaram ainda mais curiosos, queriam saber o porquê Henrique estava fazendo essa visita inesperada.
- O manda subir. – disse com a voz falhando.
Em questão de segundos, o garoto já estava na porta do quarto dele, dava pra sentir o perfume de longe, aparentemente bem arrumado.
- Oi. – disse Henrique sorrindo. – Ah, desculpa vir sem avisar, mas não tinha seu telefone. – E foi entrando, logo se deparou com Malu sentada numa cadeira giratória, Ícaro deitado na cama e Pedro em pé. – Ã, vejo que seus amigos estão aí.
- Sim. – disse Pedro, sem muita reação. – Entre!
O garoto entrou um pouco sem jeito, e Ícaro rapidamente sentou-se na cama, dando espaço para a visita. Todos estavam um pouco sem graça com essa situação.
- Queria te chamar para ir ao cinema comigo. – disse Henrique. – Ta passando Anjos e Demônios. – mas antes que o convidado pudesse responder.
- AAAAH. – se intrometeu Malu. – Estou doida pra ver esse filme. – Henrique olhou para a menina com um olhar de desprezo.
- Parece ser legal. – refletiu. – Podemos ir.
Maria Luiza e Ícaro se animaram, achando que também estavam sendo convidados, mas logo perceberam que apenas Pedro fora convidado.
- Então... – começou. – Seus amigos irão ficar aqui? – disse para ficar mais claro.
- Como assim. – não entendeu. – Eles também vão. – pensou. – Algum problema?
- Não, nenhum. – disse rapidamente para não desapontá-lo. – Vamos todos! – tentou demonstrar animação, mas estava odiando a idéia.
Um carro esperava lá em baixo, parecia um motorista particular de Henrique. Teriam que ir numa cidade vizinha, pois não tem cinema em Urubici.
Achavam que iriam de ônibus ou algo do gênero, mas assim que desceram se depararam com o luxuoso carro e um homem engravatado a sua frente.
- UAU. – Admirou Malu. – Iremos com ele? – e apontou para o motorista.
- Claro. – disse espontaneamente. – Não achou que iríamos de ônibus, achou?
- Sei lá. – pensou Pedro. – Talvez minha mãe possa nos levar.
- Não! Entrem logo. – disse Henrique.
Os assentos do carro eram extremamente confortáveis, mas não foi possível usufruir totalmente, pois o trajeto foi bem rápido e logo chegaram ao cinema.
Entraram, compraram os ingressos, pipoca e refrigerante; Henrique pagou completamente tudo, não deixou ninguém se quer abrir a carteira.
Já estava exibindo o trailer de algum filme desconhecido, a sala já estava um pouco lotada, procuraram assentos bem no fundo; Pedro sentou primeiro, logo em seguida Henrique se apressou e sentou ao seu lado.
O filme já tinha iniciado, o silêncio era absoluto; Malu e Ícaro não paravam de comer pipoca e fazer comentários aleatórios sobre as cenas; aquilo irritava demais Henrique, além de ter que levá-los, ainda tinha que ouvir as besteiras que diziam.
Pedro estava completamente concentrado no filme, talvez nem estivesse ouvindo o que seus amigos estavam dizendo. O garoto foi pegar o refrigerante e coincidentemente foi ao mesmo tempo que Henrique.
- Opa. – disse o garoto. – Pode pegar. – sorriu, Pedro corou.
Henrique foi chegando mais perto de Pedro, praticamente esqueceu que os amigos dele estavam ao lado. Mas também, imaginava que já sabiam da noite passada. Pegou em sua mão, a acariciou; estava bastante escuro, achava que ninguém perceberia.
O garoto sentiu certa vontade em corresponder, no entanto seus amigos estavam ali, não poderiam ver, não queria que soubessem, pelo menos por enquanto. Mas antes que pudesse pensar demais sobre a situação e conseqüências, Henrique tomou atitude; se virou para ele, passou sua macia mão em seu rosto, bem devagar e o beijou.
Talvez esse beijo fosse um dos mais demorados, o mais despreocupado, o mais espontâneo, o mais autêntico. Mas antes que pudessem aproveitar intensamente este momento a dois, alguém percebeu o que estava acontecendo entre eles.
- Meu deus! O Pedro está beijando o Henrique. – disse Malu, perplexa. – Quer dizer então...
E os dois se viraram totalmente para visualizar melhor os dois, mas sem fazer muito barulho.
- Que ele é gay. – completou baixinho.
- Ser gay é o de menos. – se irritou. – O que importa é que ele não nos contou.
- Muita falta de consideração. – disse Ícaro, possesso.
Os dois tentaram dialogar sobre o que acontecia o mais baixo possível, mas logo os dois perceberam e Pedro se virou para eles assustado, extremamente sem graça.
- Só esperava que nos contasse. – lamentou Malu. – Pensei que tivéssemos alguma importância pra você.

CAPÍTULO NOVE 9º – POR UM FIO

LIVRO UM - INÍCIO


Os dois entraram agarrando-se e tropeçando pela enorme sala de star. E antes que pudessem se jogar no sofá, o garoto rapidamente lembrou-se.
- Meus pais estão aqui. – lembrou. – Vamos pro meu quarto, sem fazer barulho.
Subiram as escadas, cautelosos para não acordar alguém; então caminharam pelo corredor devagar e chegaram ao último quarto. Era todo decorado em preto, vermelho e branco; tinha pufes espalhados por todo quarto, em cima de uma mesinha, tinha um notebook aparentemente muito moderno, mas antes que pudesse apreciar todo aquele luxo, Henrique sentou-se na cama e chamou Pedro. Estavam radiantes, era como se algo conectasse um ao outro, uma excitação enorme de ambos.
- Desde que eu te conheci. – começou Henrique, acariciando os cabelos lisos de Pedro. – Eu senti algo forte, que me dominasse, que me alienasse a você! – E dirigiu-se até o seu home theater, colocou a música favorita de Pedro, Heart Songs do Weezer. Por mais simples que foi essa atitude, o garoto ficou bastante encantado.
Pedro estava sentindo-se tão bem, como nunca sentiu-se em toda vida, era uma sensação feliz. Jamais pensou que ficaria com alguém em Urubici, que iria interessar-se por um garoto e que sentiria excitação por Henrique.
A noite fora de beijos, sussurros, murmúrios, risos e abraços. Dormiram agarrados a madrugada inteira; às vezes Henrique acordava e ficava observando Pedro dormir, era um clima muito romântico, o garoto jamais pensou que isso estava acontecendo, parecia até um sonho para ele.
Mas a alegria durara pouco, já era por volta do meio dia; Pedro acordou sorridente, mas quando se tocou que dormiu fora de casa, e sem avisar sua mãe, levantou-se rapidamente da cama.
- Meu deus. – assustou-se. – Minha mãe deve estar apavorada.
- Não me diga que não a avisou que dormiria aqui.
- Não, não disse. – frustrou-se. – Posso usar o telefone?
- Claro Pedro. – e entregou um aparelho de telefone sem fio.
- Alô, Malu? – perguntou Pedro.
- PEEEEEDRO! – gritou Malu. – Estamos apavorados!
- Pelo amor de deus, preciso que você confirme pra minha mãe, que dormi em sua casa.
- Mas ela já me ligou e sabe que não dormiu aqui. – lamentou Malu
- Meu deus, e agora? – apavorou-se
- Diga que dormiu no Ícaro, eu ligo pra ele e peço que confirme isso.
- Ok, faça isso, por favor.
- Mas o que aconteceu? Conta-me!
- Agora não dá, mas depois contarei. Bom, vou desligar, liga pro Ícaro, beijo, tchau.
- Ok, tchau.
Desligou o telefone até mais aliviado, mas ainda assim, odeia mentir, ainda mais para sua mãe. Tinha certeza de que depois ia ficar com um peso na consciência, e isso se ela acreditar.
Pedro estava só de cueca, e viu que estava realmente fora de si na noite passada, pois morre de vergonha de suas pernas branquelas; então, rapidamente vestiu suas roupas.
O que ele realmente queria era ir embora, e ver que está tudo certo com a sua mãe, não queria chateá-la, e muito menos perder a confiança dela.
- Bem. – começou Pedro. – Terei que ir, minha mãe deve estar apavorada e estou preocupado com isso.
- Faça isso, Pedro. – concordou Henrique. – Pode descer tranqüilo, meus pais já foram trabalhar.
- Então eu vou. – disse indo em direção a porta, mas antes que pudesse sair sem despedir-se dele, Henrique aproximou-se dele.
- Muito obrigado pela noite, viu. – e o beijou, fora uma cena tão romântica quanto a do jardim. – Vai dar tudo certo. – abraçou-o.
- Dará sim. – e saiu com pressa pelo espaçoso corredor.
Pedro estava com tanto medo de sua mãe, que queria chegar logo em casa, para acabar de vez com esse medo, então começou até a correr.
Para acabar com toda essa tensão, finalmente chegou em casa, respirou fundo e entrou.
- AAAAAAAAAAH, AÍ ESTÁ ELE. – gritou Helena. – ONDE VOCÊ ESTAVA?
- Eu dormi na casa do Ícaro, depois da festa. – disse Pedro, morrendo de medo.
- POR QUE VOCÊ DORMIU LÁ? POR QUE NÃO ME LIGOU PRA AVISAR? – gritava ainda mais.
- Mãe, eu não me senti bem, nem deu tempo. – e pensou “ufa, essa foi por um fio.”
- AAAAAAH NÃO DEU TEMPO. – irritou-se. – E VOCÊ VOLTA ASSIM, TODO TRANQUILO.
- Mas já ta tudo bem, não precisa ficar brava.
- COMO VOCÊ QUER QUE EU FIQUE? FELIZ? – gritava Helena.
- Eu não irei mais fazer isso, prometo.
- MAS É CLARO QUE NÃO IRÁ FAZER, PORQUE SE FAZER, AH PEDRO MENDES, VOCÊ VAI VER SÓ. – falou a mãe.
- Me desculpa! – disse Pedro.
Helena nem o respondeu, virou e foi para a cozinha. Ela estava realmente brava com ele, ficou extremamente apavorada durante a noite, o esperando chegar.
Pedro subiu os primeiros degraus da escada, estava indo para seu quarto, mas a campanhinha tocou. Sua mãe foi apressada para abrir a porta, estava totalmente nervosa; era Ícaro e Malu.
- AAAAH – deu um grito. – O Pedro realmente dormiu na sua casa, Ícaro? – desconfiou.
Fizera uma certa pausa, um silêncio que fazia com que o estomago de Pedro moesse. Não tinha certeza se o amigo já sabia que era pra mentir; Pedro e Ícaro se entreolharam.
- Claro, Helena. – confirmou Ícaro. – Desculpa não termos avisado, mas estávamos cansados.
- Sei. – desconfiou Helena. – Bem, espero que isso não aconteça de novo, sem me contatar.
- Relaxa, não acontecerá mais. – garantiu Malu, fazendo um olhar de raiva para Pedro.
Ícaro pareceu convincente para Helena, então a mãe foi para a cozinha um pouco desconfiada. Os dois subiram apressados para o quarto de Pedro, que estava perfeitamente arrumado.
- Pedro Mendes. – começou Malu. – Pode começar a nos contar aonde passou a noite passada e com quem.
- Fala baixo! – preocupou-se Pedro.
- Queremos saber! – disse Ícaro animado.


CAPÍTULO OITO 8º – FORA DOS PADRÕES

LIVRO UM - INÍCIO

Pedro tentou sair atrás dele, mas antes que pudesse fugir da garota, ela se colocou a sua frente.
- Vai atrás do amiguinho e deixar-me aqui? – perguntou a garota, brava. – ou namoradinho?
- Não, você não sabe de nada. – corou Pedro, tentando desviar o olhar.
- Você é realmente muito mole. – gritou Ágata. – Broxante!
- Se é isso o que acha. – disse Pedro. – Não posso fazer nada.
- Então não importa o que eu acho? – indignou- se.
- NÃO! – gritou. – NÃO IMPORTA O QUE VOCÊ ACHA OU O QUE DIGA!
- AAAAAAAAAH. – alterou-se ainda mais. – SEU GRANDE... MULHERZINHA! – e saiu correndo, extremante nervosa.
Algumas pessoas que estavam ao lado da barraca do beijo, com os gritos, perceberam a briga entre os dois. Pedro sentara no chão, arrasado com o que aconteceu; definitivamente, não sabia o que fazer. Se iria atrás de Ágata, de Henrique, de Malu e Ícaro, se ficava sozinho ou ir embora.
Embora sentisse um pouco de preconceito em relação ao Henrique, sentiu-se confortável quando estava sozinho com ele na casa dele, e principalmente quando o chegara mais perto. Não sabia muito que pensar de Ágata, mas estava com muita raiva dela.
Saiu dos fundos do palco sem rumo algum, ainda estava meio confuso com tudo o que aconteceu. Logo avistou Malu e Pedro na barraca dos doces típicos, apressou-se, queria mesmo contar para eles o que acontecera.
- Me ajudem! – gritou Pedro.
- Como assim. – assustou-se Ícaro.
- Henrique me viu com a Ágata, bem na hora do beijo; brigou comigo, tentei ir atrás dele, mas ela não deixou. – suspirou. – Ela também se irritou, fez um escândalo, me xingou.
- CARALHO! – espantou-se Malu. – Ai, desculpa... Quanta coisa aconteceu, meu deus.
- Sim... – pensou. – O que eu faço?
- Quem você quer? – perguntou Ícaro colocando-se a frente dele.
- É, diga quem realmente te interessa.
- NINGUÉM! – gritou Pedro, irritadíssimo.
E antes que pudesse apresentar seus argumentos aos gritos para os amigos, viu Henrique passando atrás de uns bancos, ao lado de onde estava.
- Espera aí. – chamou Pedro, indo em direção a ele.
Malu e Ícaro ficaram parados, observando o amigo indo apressado ao encontro de Henrique.
- O que você quer? – perguntou friamente. – Vai lá com a sua namoradinha.
- Ela não é minha namorada. – irritou-se. – Ela não é absolutamente NADA!
- Sei. – desconfiou. – Então o que significa aquilo atrás do palco?
- Impulso mal pensado. – respondeu fixando os olhos nele. – Esperai, porque estou te dando explicações, qual o interesse que tem em saber?
- Você não entende. – lamentou-se – É lerdo, não sabe das coisas.
- Isso é uma ofensa?
- Não, exatamente. – respondeu olhando Pedro de cima a baixo.
- Então por que ficou bravo de ter visto eu com a Ágata, porra!
- Se tua inteligência não tem capacidade o bastante de compreender sozinha, pois bem. – começou Henrique. – EU ESTOU GOSTANDO DE VOCÊ! – disse alto.
Foi como se Henrique tivesse cravado uma facada em sua cabeça, em seu cérebro, em seus pensamentos, suas confusões, em praticamente toda a sua lucidez. Estava fora de si, não sabia exatamente o que dizer, o que fazer, que gestos fazer, que expressões fazer. Fizera um olhar de “socorro” para os amigos, que já perceberam o que Henrique dissera a ele.
- C-o-m-o a-s-s-i-m – gaguejou Pedro. – Você ta...?
- Sim, estou. – respondeu com raiva. – Talvez apaixonado, mas isso não importa, fique sossegado, irei fazer de tudo para esquecê-lo. Só queria que soubesse.
- Ah, obrigado. – disse Pedro, extremamente confuso.
- De nada. – respondeu ironicamente, com uma enorme raiva e tristeza.
Henrique saiu andando para fora da festa, estava bastante chateado, talvez achasse que contando a Pedro que gostava dele, pudesse acontecer algo.
Alguns segundo após a saída do garoto, Malu e Ícaro aproximaram-se de Pedro.
- Estou sem reação. – disse Malu, perplexa.
- Já esperava isso. – falou Ícaro. – Quando soube que ele o convidara pra festa, já desconfiei, e depois do beijo, tive certeza.
- Não sei o que pensar dele, de mim. – pensou. – É indescritível o que estou passando.
- Imagino. – disse Malu, dando tapinhas no ombro do amigo.
- Você vai ignorar ele? – perguntou Ícaro.
- Claro que irei. – respondeu Pedro, e sentiu-se extremamente falso com seus amigos, pois estava mentindo, sabia que sentia algo estranho por Henrique, mas não queria comentar. Achava que não era o momento propício para confissões esquisitas, que pensava até que fossem sobrenaturais.
Ficou ali sentado, não parava de pensar no que o Henrique disse, não conseguia sair de sua mente a frase “EU ESTOU GOSTANDO DE VOCÊ”. Começou a lembrar do beijo no jardim, da conversa que teve com ele em sua casa. Isso o deixava ainda mais confuso, irritado e sem fazer o que exatamente fazer.
Não conseguia mais concentrar-se na festa, nos amigos, nas apresentações, nas pessoas, em mais ninguém. Estava completamente atordoado, sentindo sensações estranhas e uma vontade ainda mais anormal.
- Vejo vocês amanhã. – disse com pressa. – Tchau!
- Não haverá aula. – lembrou Malu.
- Pois bem. – pensou. – Vão a minha casa no período da tarde!
- Você está bem? – perguntou Ícaro, preocupado.
- Sim, ótimo... Tchau!
Saiu tropeçando pelas pessoas, pois estava com bastante pressa. Assim que chegou no ponto de ônibus, já havia um que ia exatamente para o destino que queria, então entrou. Não demorou muito, quando pensou que não, já tinha chegado.
Pedro suava frio, até sentia uma leve dor de barriga, então atravessou a calçada, tomou fôlego e aproximou-se da enorme mansão; tocou a campanhinha e a aguardou apreensivo.
- Pedro? – perguntou Henrique, bastante assustado com a presença dele.
Mas antes que ambos pudessem falar alguma coisa, algum questionamento ou briga. Pedro deu um pulo e o abraçou, parecia que ia quebrar os ossos dele. Quando o abraço se desfizera, Henrique olhou fixamente nos olhos de Pedro, viu seus olhos brilhando e algumas lágrimas caindo.
- Você está bem? – perguntou Henrique, ainda mais perplexo.
- Vou estar ainda melhor depois de... – e antes que pudesse finalizar sua frase, puxou Henrique pela blusa, olhou em seus olhos, passou sua mãe levemente em seu rosto e o beijou.
Agora ele sim parecia Ágata beijando, estava fazendo Henrique perder o fôlego, o empurrara contra a porta e beijava seu pescoço. Ambos estavam bastante excitados; Pedro nunca sentiu-se tão atraído por alguém durante um beijo, sentiu seu sangue ferver por ele, e ainda mais por um garoto, mas agora não importava, ele só queria beijá-lo.

CAPÍTULO SETE 7º – 145 ANOS DE IMIGRAÇÃO ALEMÃ

LIVRO UM - INÍCIO


Pedro acordara um pouco cansado, e antes que pode levantar-se para tomar banho, sua mãe entrou no quarto apressada.
- Pedro. – começou a mãe. – Ligaram da escola, parece que o encanamento estourou, ta tudo molhando. Enfim, não haverá aula. – contou a mãe. – Ligarei mais tarde para ver se terá aula normal amanhã.
- Ok. – disse Pedro, com os olhos um pouco fechados. – Vou voltar a dormir, estou cansado.
E antes que a mãe pudesse falar algo, o garoto deitara de novo em sua cama e dormira.
Lá fora, fazia um dia ensolarado, entretanto não quente. O sol estava presente, mas o frio o vencia.
Finalmente ele acordou, já passava das 14h00. Já levantou-se pensando no que ocorreria hoje, estava ainda mais ansioso. Queria pedir uns últimos toques para Olivas, mas o padrasto estava trabalhando, e a festividade da imigração alemã começava 18h00.
- Mãe, vou numa tal festa de cento e quarenta e cinco ano de imigração alemã. – falou o garoto.
- Como assim, eu vou todo ano com Olivas. – disse a mãe, virando-se para o filho. – Irei também.
- Ah, sim. – pensou Pedro. – Vou com o Ícaro e Malu.
- Mas irei só ao final de semana. – disse Helena. – Estou cheia de coisas pra fazer. Irá hoje, na estréia?
- Sim. – respondeu. – Quero ver como é.
- É bem legal, acho que irá gostar.
Pedro já estava arrumando, pronto para ir; Malu e Ícaro o encontrariam na frente do letreiro de entrada da festa. Pediu que sua mãe o levasse, pois era meio longe, e depois voltava de ônibus. Durante o caminho, foram ouvindo o novo CD do Oasis, que Pedro adorava.
- Bem, é aqui. – falou a mãe. – Juízo... E ah, liguei na escola, parece que não terá aula até o final da semana, ela está toda inundada de água.
- Ah, nossa. – pensou. – Que máximo, sem aula... Bem, tchau mãe!
Quando desceu do carro, para seu horror, estava Malu, Ícaro e ela mesma, Ágata. A garota usava uma micro-saia rosa clara, um salto alto preto e uma blusinha lilás super colada. O garoto ficara vermelho, bem sem graça; não sabia que já seria tão assim... De cara. Foi aproximando-se e por um momento queria sair correndo dali.
- Oi. – disse Pedro, um pouco sem graça.
- Oi atrasadinho. – respondeu Ágata sorrindo.
- Bem... – começou Malu. – Eu e o Ícaro vamos comer umas maçãs de amor. – Depois nos encontramos.
- Tchau, lindinha. – disse Ágata.
Os dois saíram encarando Pedro, e sumiram diante da multidão. Tinham muitos com roupas alemãs, era bem engraçado.
- Vamos dar uma voltinha, Pedro Zinho? – chamou a garota.
- Pedro, por favor. – disse. – Bom, pode ser.
Ágata pegara na mão de Pedro na maior ousadia, como se fosse sua namoradinha. Não teve como o garoto simplesmente tirar sua mão, teve que andar de mãos dadas com ela. Atravessaram uma enorme fileira de barracas com comidas típicas e chegaram atrás de um palco onde apresentavam-se um grupo de dança alemã.
- Vejo que estamos sozinhos. – disse a garota, aproximando-se e fazendo uma cara sensual.
- É, só tem mato aqui. – disse Pedro, com um pouco de medo.
Ágata foi chegando ainda mais perto do garoto, e o abraçou. Pedro até que sentira uma excitação, ficou até mais tranqüilo. Antes que o abraço se desfizera, Ágata dera um super beijo nele, parecia que ia comer sua boca, beijava numa velocidade inacreditável. Após alguns minutos do quente beijo, os dois resolveram dar uma pausa. Pedro gostara do beijo, mas a garota parecia que ia o sugar, não curtiu muito. Ficaram abraçados; ouviram passados, se alguém aproximando-se deles. Quando viram, era Henrique, assim que Ágata o viu, puxou Pedro e o beijou como se estivessem sozinhos. O garoto ficou extremamente envergonhado, e rapidamente empurrou Ágata.
- O que foi? – disse a garota, se jogando pra cima dele.
- Você é muito inconveniente, não viu ele aqui? – indignou-se
- Não precisam brigar, já estou indo embora. – disse Henrique, saindo super arrasado com a cena que deparou-se.
- Como assim. – gritou Pedro, indo em direção a Henrique. – Não precisa... – disse o puxando pelo braço.
- Tira suas mãos de mim. – disse Henrique, saindo atordoado dos fundos do palco, e sumiu pela imensidão de pessoas.

CAPÍTULO SEIS 6º – CONVITE DESNECESSÁRIO

LIVRO UM - INÍCIO

- Quem será?! – irritou-se e indo até a porta abri-la. – Ah, são seus amigos, Pedro! – disse com um enorme desânimo.
Malu e Ícaro entraram meio sem graças pela cara de descaso que Henrique fizera para os dois.
- Pensei que viriam ao final da tarde. – disse Pedro.
- É nós viríamos. – falou Ícaro. – Mas resolvemos vir antes. – contou. – E Malu precisa de ajuda nos cinqüenta exercícios.
- Sou péssimo na matéria do Giuliano. – disse Pedro.
- Eu sou mediano, digamos assim, aceitável. – falou Henrique.
- Bom, então pode nos ajudar. – sorriu Malu. – Pode?
- Mas é claro. – concordou Henrique, que no fundo estava odiando tudo isso.
Henrique ajudara Maria Luiza em todos os exercícios, e pro alivio da garota, conseguiram fazer exatamente os cinqüenta exercícios. Foram sair da casa dele já era 22h00 da noite; Henrique não agüentava mais ouvir a voz dos amigos de Pedro, a única voz que não o irritava no momento era a de Pedro.
No dia seguinte, para o espanto do professor de física, Malu entregara em sua mesa todos os exercícios pedidos e piscou o olho para Henrique, no fundo da classe.
- Amanhã começa a festa da imigração alemã? – perguntou Ícaro.
- Sim. – respondeu Malu. – Sempre começa num sábado, nunca vi começar no meio da semana.
- Nunca fui. – pensou Pedro. – Só fui à de cem anos de imigração japonesa, em São Paulo.
- Parece ser legal. – falou Malu. – Bem, aqui começa amanhã.
O professor Giuliano começara a explicar matéria nova, então os três resolveram parar de conversar e prestar a atenção na aula. Mas ainda sim, a matéria dele era extremamente chata e difícil; nenhum deles tinha algum interesse em aprender aquelas fórmulas e cálculos.
- Não irá falar com a Ágata? – perguntou Ícaro. – Ela veio hoje, olha ela ali. – e fez um sinal com a cabeça mostrando a garota no canto da classe.
- Calma. – disse Malu. – No intervalo irei surpreendê-la e convencê-la a sair com Pedro.
- Ah, não sei. – pensou Pedro. – Não pode ser uma boa idéia.
- Como assim. – espantou-se Ícaro. – Você tinha concordado plenamente.
- Sim. – concordou. – Mas sei lá, tenho pensado... Não sei não.
- Você não tem que saber nada. – disse Maria Luiza. – No intervalo, falarei com ela.
Chegara o intervalo e Pedro ficou com Ícaro perto da quadra de esportes da escola, que era um pouco isolada do pátio principal. Presumia que neste momento Malu já estivesse falando com Ágata. Passaram-se alguns minutos e eles viram Malu vindo do pátio principal, ela estava bem longe, mas seu prendedor de cabelo Pink fez com que os garotos a identificara rapidamente.
- E AÍ? – perguntou Pedro, apreensivo.
- Fiz o convite a ela. – disse Malu, tranquilamente. – A convidei para sair com você.
- Ela não aceitou? – perguntou Ícaro, perplexo.
- Convite absolutamente... – começou Pedro. – Desnecessário.
- Ela aceitou. – disse Malu, sem rodeios. – Amanhã, às 21h00 na festa da imigração alemã.
- Como assim. – assustou-se Pedro. – Já marcou pra amanhã.
- Vai pegar. – disse Ícaro brincando.
- Iremos com você, oras. – falou Maria Luiza. – Mas quando você for lá com ela, sairemos.
- Obvio. – disse Pedro. – Não estou gostando muito disso, mas fazer o quê.
Pedro não gostara muito da idéia, mas agora já estava feito, não tinha mais como voltar atrás. Terá que sair com a garota que o paquerou desde que entrou na escola.
Não sabia o que iria dizer para ela amanhã, não teria assunto algum com ela. Ela é extremamente patricinha, e andara com mais duas meninas que eram pior que ela. Estava com medo de ela ser dessas, bem “frescurentas”
Fora embora pensando nisso, não parava de pensar nisso. Será que iria superar as expectativas da patricinha? Ah, era muita informação para ser processada na cabeça do garoto.
Não sabia se comentava com sua mãe sobre o encontro, sentia-se com vergonha. Achava mais apropriado comentar com Olivas.
- Olivas. – chamou Pedro, de seu quarto. – Podia ver uma coisa aqui no meu computador?
Em alguns instantes, apareceu o padrasto, aparentemente suado; estava ajudando Helena a pendurar um enorme quadro na sala.
- Oi? – perguntou.
- Então. – e pediu que fechasse a porta. – Amanhã, eu tenho um encontro...
- Com uma garota? – admirou Olivas.
- Sim, sim. – respondeu Pedro. – Ela é maior patricinha. Sei lá, estou com medo de algo sair errado.
- Fico feliz que está compartilhando isso comigo. – começou Olivas. – Olha, fica sossegado, filho. Irá dar tudo certo!
- É praticamente... – disse Pedro. – Meu primeiro encontro.
- Sei exatamente como sente-se. – entendeu o padrasto. – Também fiquei assim no primeiro encontro.
- E como foi? – perguntou atencioso.
- No começo eu tava com vergonha. – contou. – Mas depois fui me soltando, e foi tudo ótimo. Tenho certeza de que o seu será perfeito!
- Ah, tomara. – pensou o garoto, extremamente inseguro.
- Não fica pensando nisso agora, filho. – disse Olivas. – Deixa pra pensar isso na hora.
- Ok. – concordou. – E ah, não comenta com a minha mãe, por favor. – disse olhando para o padrasto. – Pelo menos por enquanto.
- Claro. – falou Olivas. – Existem coisas que as mães não precisam estar cientes.
- Exato! – admirou Pedro, de como o padrasto era compreensível.
- Agora vá dormir. – disse. – Precisa descansar para amanhã.
- Já irei dormir, sim.
O garoto fora deitar pensativo, não parava de pensar em como seria amanhã, como seria o beijo, como rolaria tudo entre os dois. Estava com medo e com expectativas; pois já estava na hora de ser um cara de marcar encontros, então, achou um pouco certo. Percebeu que toda essa insegurança era normal, porque não queria fazer feio com a garota, então toda essa preocupação era válida.

CAPÍTULO CINCO 5º – ENCARANDO O PROBLEMA

LIVRO UM - INÍCIO

Pedro mal tomara o café da manhã direito, já começara a ir para escola de ônibus, então apressou-se para não perdê-lo. Até que tivera uma boa noite de sono, entretanto não fora o bastante para pensar em tudo o que anda acontecendo. No ônibus sentava-se isolado, também, não tinha nenhum conhecido dele ali. O caminho não era muito longo, era rápido, em vinte minutos, no máximo, já concluía o trajeto.
- Ia falar com ela agora na entrada. – começou Malu. – Mas ela faltou.
- Bom dia pra você também. – disse Pedro.
- Ah, desculpa. – envergonhou-se a garota.
- Ela... Quem?
- Ágata. – respondeu Maria Luiza. – Acho que não veio hoje.
- Bem, deve estar de ressaca até agora. – disse Ícaro. – Bebeu tanto no sábado.
- Como se nós não bebêssemos. – falou Pedro irritado.
Já sentados em seus lugares, colocando suas apostilas e estojos em cima de suas mesas, viram Henrique entrando na classe, com olheiras e uma cara péssima, parecia que nem dormira na noite passada. Algumas pessoas levantando-se do lugar para recepcioná-lo, falar com ele, provavelmente comentar sobre a ilustre festa. Pedro ficou extremamente vermelho; Malu e Ícaro o olharam e também coraram. O garoto queria naquele exato momento, que Henrique mudasse de classe, de escola; pois toda vez que olhasse pra ele, irá lembrar-se do ocorrido no jardim da sua casa. Começou até a soar frio, com medo de ele aproximar-se, de comentar com seus amigos, da história vazar pelo colégio; estava completamente frustrado.
- Relaxa. – disse Malu colando suas mãos no ombro de Pedro. – Ele não fará nada o desagrade.
- Acho que deveria falar com ele. – começou Ícaro. – Dizer pra esquecer o que aconteceu.
- Não sei ainda. – disse pensativo.
Neste instante, entrou a professora Márcia Maria, acompanhada do diretor do colégio, Rúbio Walter apressados.
- Nos seus lugares! – começou a professora.
Os alunos pararam imediatamente o que estavam fazendo, todos viraram-se para a professora e o diretor.
- Henrique Alcântara. – disse o diretor, com uma voz bastante grossa. – Acompanhe-me.
Os alunos ficaram curiosos, arregalaram os olhos, queriam saber o porquê fora chamado pessoalmente pelo diretor; era extremamente rara a presença de Rúbio nas classes.
O garoto levantou-se assustado e olhou para seus amigos com desconfiança, acompanhou o diretor e saiu da classe. A professora deu início a sua aula, começou a escrever um texto na enorme lousa branca.
- Parece estar encrencado. – lamentou Maria Luiza.
- Vocês acham... – começou Pedro. – Que tem alguma coisa a ver comigo? – assustou-se
- Como se isso tivesse alguma coisa a ver com o colégio. – disse Ícaro. – Fica tranqüilo.
- É, deve ser algum problema dele. – falou Malu. – Só dele...
- Fico preocupado com ele. – disse Pedro. – Mesmo tendo acontecido isso entre a gente, ele é legal.
- Sr. Pedro? – Perguntou a professora Márcia.
- Sim. – respondeu assustado.
- Está copiando a matéria? – perguntou analisando a mesa do garoto. – Espero que sim.
Logo pegou seu caderno e começou a copiar a lição imediatamente; não queria aborrecer a professora, pois era a sua favorita.
Passara as aulas e Henrique não voltava. Pedro ficara apreensivo, olhando para a porta. Estava decido de que, quando ele voltara, teria uma conversa civilizada com ele. Percebeu que era completa burrice esconder-se dele; de alguma forma, tinha que resolver isso, e nada melhor do que uma conversa.
Durante a aula de Giuliano, Malu não conseguira responder corretamente a chamada oral. O professor passou uma punição de cinqüenta exercícios extras para entregar no dia seguinte. A garota tinha dificuldade na matéria nova. Pedro achara isso extremo absurdo, segurou-se para não reivindicar, mas só iria piorar a situação.
Ao final da aula, na saída, finalmente viu Henrique; estava sentado num banco, perto da cantina. Respirou fundo e foi em direção ao garoto, aproximou-se e tentou não demonstrar insegurança.
- Oi. – começou Pedro. – Acho que precisamos... – a voz falhou. – Conversar.
- Concordo... – e gemeu de alguma dor. – Plenamente. – completou.
- Ta tudo bem? – perguntou Pedro assustado.
- Acho que sim. – respondeu. – Bom, pode ser na minha casa? Aqui não é um lugar apropriado.
Pedro sentiu-se estranho, não sabia se era uma boa idéia ir a casa dele, talvez ele pudesse o agarrar, ou algo do tipo. Mas ficou sem graça de dizer não.
- Ta ok. – concordou. – Após o almoço, ta bom?
- Ótimo. – disse Henrique levantando-se. – Bem, já vou indo, estou cansado.
Os dois despediram-se e logo apareceram Malu e Ícaro tentando decifrar o que havia acontecido entre os dois.
- Falou com ele? – perguntou entusiasmada.
- Falei e não falei. – respondeu. – Irei a casa dele hoje à tarde para conversar.
- Engenhoso. – pensou Ícaro.
- Façam assim. – começou Pedro. – Ao final da tarde, vão a casa dele me buscar.
- Tudo bem. – concordaram.
Pegaram o ônibus e foram embora. Pedro chegou em casa apressado, almoçou com pressa e disse a Helena que iria na casa de Henrique ajudá-lo no dever da escola. Resolveu ir andando mesmo, levou seu ipod, que o descontraiu no caminho.
Ao chegar, tocou a campanhinha e Henrique mesmo que abriu.
- Entre. – chamou o garoto, que ao entrar já sentou-se no sofá. Pedro ainda tinha seqüelas da festa que ocorrera nesta casa, mais especificamente no jardim ao fundo.
- Olha. – começou Pedro. – Queria te dizer que fiquei bem confuso com o que aconteceu sábado, acho que devemos esquecer isso e continuar sendo colegas.
- Por hora. – pensou Henrique.
- É possível você me dizer o porquê do Rúbio chamá-lo na classe? – perguntou.
Fez-se um enorme silêncio na enorme sala; Henrique abaixara a cabeça e ficou alguns segundos sem levantá-la.
- É... – gaguejou. – Uma longa história.
- Gostaria de saber. – disse Pedro.
- Não é uma história legal de ouvir-se. – falou Henrique cabisbaixo.
- Quem sabe posso ajudá-lo.
- Infelizmente não pode Pedro.
- Por favor, conte-me. – insistiu Pedro.
- Eu... – começou. – Estou bastante doente. – contou. – E pegaram alguns remédios no meu armário, achando que eram calmantes ou soníferos.
- Ah. – pensou Pedro. – E por que não vai num médico? Fala com seus pais.
- Já fui. – contou Henrique. – Mas sem o conhecimento dos meus pais. – disse abaixando a cabeça. – É bem complicado.
- Presumo que sim. – teve dó. – Espero que dê tudo certo.
- Lhe peço. – começou. – Que não comente o que te disse com ninguém. – pediu. – Absolutamente NINGUÉM.
- Fica tranqüilo. – confortou.
Henrique o encarava, parecia até o mesmo olhar que ocorreu no jardim. Pedro ficou com um pouco de medo e tentou desviar o olhar.
- Queria te dizer mais algumas coisas. – começou Henrique aproximando-se do garoto.
- Pode falar. – disse Pedro assustado.
- Não queria que você afaste-se de mim. – pediu. – Por eu estar doente e tal.
Pedro sentiu uma enorme dó de Henrique, e não ficou mais com medo dele, até chegara um pouco mais perto dele.
- Que isso. – falou. – Até parece, somos amigos, agora. – garantiu o garoto.
- E queria falar que você é um garoto especial. – disse chegando-se ainda mais perto; Pedro não sentia-se com medo, por um momento, sentira certa excitação, quando foi levando suas mãos ao rosto do garoto, a campanhinha tocara. Henrique pareceu irritado e levantou-se.